A política de Pratânia voltou ao centro das atenções após duas decisões recentes da Câmara Municipal. Em sessões realizadas no dia 11 de agosto e no dia 25 de agosto, os vereadores tomaram rumos diferentes diante de denúncias envolvendo dois parlamentares da Casa: a primeira-dama e vereadora Sandra de Andrade Santos (MDB), conhecida como Sandra Félix, e o vereador Odair José Polido (PT).

Caso Odair Polido: condenação já confirmada na Justiça Federal
No dia 25, a Câmara rejeitou, por 5 votos a 3, a abertura de investigação contra Odair Polido. A denúncia, apresentada por um eleitor, teve como base processo da 1ª Vara Federal de Botucatu (0000350-10.2017.4.03.6131). Segundo a ação, Polido recebeu indevidamente o Benefício Assistencial à Pessoa com Deficiência (BPC/LOAS) entre 2004 e 2013, mesmo já exercendo mandato de vereador.
A Justiça Federal concluiu que o parlamentar agiu de má-fé, por não comunicar ao INSS sua condição de ocupante de cargo eletivo remunerado. O valor atualizado do benefício recebido indevidamente chega a R$ 101,3 mil. Após perder em todas as instâncias, Polido firmou acordo com o INSS e atualmente devolve os valores de forma parcelada.
Na denúncia protocolada na Câmara, foram anexados documentos como guias de pagamento com o código “restituição de benefício oriundo de fraude” e trechos de sentenças e votos de desembargadores federais, que destacaram a fraude e o dolo na conduta do vereador. Mesmo assim, a maioria dos parlamentares decidiu arquivar o pedido de investigação, impedindo a abertura de uma Comissão Processante.
Caso Sandra Félix: Comissão Processante aprovada
Duas semanas antes, em 11 de agosto, o cenário foi diferente. Por 6 votos a 3, a Câmara decidiu abrir investigação contra a vereadora e primeira-dama Sandra Félix. A denúncia sustenta que, por mais de dois anos, ela teria continuado a receber salários e benefícios de Agente Comunitária de Saúde, apesar de não exercer as atividades de campo. Nesse período, teria atuado em funções administrativas ou ligadas ao Fundo de Solidariedade.

O documento também aponta que apenas em fevereiro de 2025 ocorreu o afastamento formal do cargo de origem, após cobranças da atual composição da Câmara, hoje formada por maioria de oposição. O denunciante alega que houve prejuízo aos cofres públicos e pede a cassação do mandato.
Com a decisão, foi formada a Comissão Processante, composta pelos vereadores Douglas de Oliveira de Campos (presidente), Roberto Valdir Justo Júnior (relator) e Paulo Rino Baptista da Silva (membro). O prazo para conclusão dos trabalhos é de até 90 dias, assegurando direito de defesa à vereadora.
Sessão marcada por tensão
Durante a palavra livre, Sandra Félix afirmou ser vítima de perseguição política e disse estar sendo alvo dos “homens da Casa”. Ela ainda pediu que as mulheres do município acompanhem de perto os desdobramentos da investigação.
A sessão também registrou momentos de atrito entre a imprensa e a Mesa Diretora. O presidente da Câmara se recusou a conceder entrevistas sobre os casos e chegou a discutir com profissionais que tentaram questioná-lo. Ao final, mesmo convidado a se pronunciar, preferiu não comentar o assunto.

Dois pesos e duas medidas?
Enquanto a vereadora Sandra Félix terá seu caso investigado internamente, com possibilidade de cassação, a denúncia contra Odair Polido, mesmo já condenado judicialmente por fraude contra o INSS, foi arquivada sem apuração pela Câmara.

O contraste entre as duas decisões tem gerado debate no município e levanta questionamentos sobre os critérios utilizados pelos vereadores para analisar cada situação, além de indicar possíveis alinhamentos políticos e de bancada dentro do Legislativo de Pratânia.