O Oriente Médio vive mais um momento de forte acirramento geopolítico com o recente ataque do Irã a Israel. O conflito, que se intensificou após quase um ano da ofensiva do grupo terrorista Hamas, agora ganha novos contornos com a entrada do Hezbollah, organização extremista apoiada pelo Irã e com base no Líbano.
Há uma semana, Israel iniciou bombardeios em território libanês e, nesta terça-feira (17), lançou uma operação terrestre “limitada” contra alvos específicos do Hezbollah. A escalada dos confrontos começou após explosões de aparelhos de comunicação usados por membros do grupo, que responsabilizam Israel pelos ataques.
Crise humanitária e risco global
Além das consequências humanitárias devastadoras, como mortes, feridos e o deslocamento de milhares de pessoas, o conflito também representa sérios riscos econômicos para o mundo. A região é estratégica por sua relevância na produção global de petróleo, e a entrada do Irã — um dos maiores produtores do mundo — eleva ainda mais a tensão.
O reflexo foi imediato nos mercados: após o ataque iraniano, o preço do barril de petróleo disparou 5% no mercado internacional, ultrapassando os US$ 75, após ter fechado em US$ 71 no dia anterior.
Impactos no Brasil: petróleo, dólar e inflação
Especialistas apontam que o principal risco para o Brasil é o aumento do preço do petróleo. A elevação afeta diretamente os preços dos combustíveis, como gasolina e diesel, impactando tanto o consumidor final quanto os custos logísticos de transporte e produção de mercadorias.
“Com medo de uma eventual escassez ou disrupção no transporte de combustíveis, compradores antecipam a demanda e estocam petróleo, o que provoca alta imediata nos preços”, explicou o especialista em Direito Internacional Emanuel Pessoa.
Outro efeito colateral é a valorização do dólar. Em cenários de instabilidade global, investidores tendem a migrar recursos para mercados considerados mais seguros, como o dos Estados Unidos, pressionando ainda mais a cotação da moeda americana frente a moedas de países emergentes, como o real. A taxa de câmbio já acumula alta de 12% no Brasil em 2025.
Inflação no radar
Com a alta do dólar e dos combustíveis, o impacto mais visível para o consumidor é a inflação. A gasolina tem peso significativo no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice que mede a inflação oficial do país. Além disso, o diesel, fundamental para o transporte rodoviário, também influencia diretamente os custos logísticos e, por consequência, o preço final dos produtos.
“A guerra tem potencial inflacionário. Quanto mais tempo durar, maior será a pressão sobre os preços”, afirma Helena Veronese, economista-chefe da B.Side.
Embora a Petrobras tenha algum espaço para segurar os repasses, devido à defasagem atual nos preços internos, especialistas alertam que esse alívio pode ser temporário caso o conflito se intensifique.
Cenário fiscal interno agrava incertezas
Somada à tensão internacional, a incerteza fiscal brasileira — com dúvidas sobre a capacidade do governo de equilibrar as contas públicas — amplia a desconfiança dos investidores, podendo acentuar a fuga de capitais e pressionar ainda mais o câmbio e a inflação.
O momento, portanto, exige atenção redobrada das autoridades econômicas e do setor produtivo, diante de um cenário externo que combina instabilidade política, crise humanitária e forte volatilidade nos mercados globais.