Offline
Tarifaço dos EUA pode afetar produção e exportações de usina em São Manuel, apontam especialistas
Por Moisés Moura
Publicado em 28/07/2025 13:42
São Manuel

A recente decisão do governo dos Estados Unidos de aplicar um tarifaço sobre produtos importados está movimentando os mercados internacionais e pode ter reflexos indiretos na economia brasileira — inclusive em municípios do interior como São Manuel (SP).

O alerta vale principalmente para setores altamente dependentes de exportações, como o sucroalcooleiro. A cidade abriga uma importante usina produtora de açúcar, etanol e levedura seca, com forte atuação no mercado interno e externo.

 Capacidade produtiva impressiona

Localizada no município de São Manuel, a usina possui capacidade de moagem entre 4,1 a 4,3 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra, gerando de 180 mil a 290 mil toneladas de açúcar por ano, além de volumes expressivos de etanol e derivados industriais.

A unidade fornece para o mercado nacional e está vinculada a operações internacionais por meio de uma grande comercializadora do setor, que exporta para diversos países.

 Exportações para os EUA

Apesar de disponibilizar seu açúcar ao mercado externo, não há informações públicas que confirmem o envio direto de açúcar dessa usina para os Estados Unidos. As vendas são feitas por meio de canais de exportação, mas os destinos específicos por unidade produtora não são divulgados.

Em relação ao etanol, a usina está autorizada a exportar para os Estados Unidos, inclusive para o exigente mercado da Califórnia, por meio dos programas RFS (Renewable Fuel Standard) e LCFS (Low Carbon Fuel Standard), que reconhecem biocombustíveis de baixa emissão de carbono.

No entanto, não há dados públicos disponíveis sobre os volumes de etanol efetivamente exportados pela unidade, nem os valores financeiros envolvidos. Essas informações são geralmente restritas a relatórios internos ou operadoras comerciais.

 Riscos do tarifaço

A imposição de tarifas pelos EUA pode provocar redução na demanda por importações, queda nos preços internacionais e reorganização das rotas comerciais globais. Mesmo que o Brasil não seja alvo direto, os efeitos indiretos podem comprometer a competitividade dos produtos nacionais, especialmente os que enfrentam concorrência direta com países mais afetados.

Se houver alterações nas condições de entrada do etanol brasileiro no mercado americano, por exemplo, produtos com selo de baixo carbono — como os da usina de São Manuel — podem enfrentar desvantagens frente aos combustíveis subsidiados domesticamente.

 Especialistas apontam impactos diretos em São Manuel

Especialistas ouvidos pela reportagem da TV São Manuel Conectado apontam que, apesar do impacto parecer distante, as consequências do tarifaço podem ser sentidas diretamente no município.

“O aumento das tarifas tende a pressionar os preços no mercado internacional, o que afeta a receita da produção local. Isso compromete o caixa das indústrias e das propriedades rurais, gerando menos investimento, menos contratações e menor giro no comércio”, explica o economista rural.

Já a consultora em comércio exterior Luciana Prado alerta que “a incerteza global causada por medidas protecionistas pode encarecer insumos como fertilizantes e combustíveis, além de dificultar o planejamento das exportações de etanol. Isso impacta toda a cadeia produtiva local”.

Além disso, o técnico agrícola João Paulo Silveira, que atua na zona rural de São Manuel, ressalta: “Se os preços do açúcar e do etanol caem ou os custos sobem, o reflexo chega rápido no campo. Os produtores seguram investimentos, diminuem a compra de insumos e até adiam contratações. Isso afeta o comércio, os serviços e até o transporte rural”.

 

Comentários
Comentário enviado com sucesso!