Dólar atinge maior valor da história e preocupa economia brasileira
Na última segunda-feira (16), o dólar comercial alcançou o maior valor de sua história, sendo cotado a R$ 6,09. A alta não parou por aí: na terça-feira, o dólar chegou a R$ 6,20, e nesta quarta-feira (18), a moeda norte-americana era negociada a R$ 6,26. O movimento de valorização expressiva da moeda estrangeira levanta questionamentos sobre os motivos que impulsionam o aumento, mesmo com a atuação do Banco Central por meio de leilões de dólares.
Fatores que impulsionam a alta do dólar
Especialistas explicam que a desvalorização do real não é causada por um único fator, mas por uma combinação de aspectos internos e externos. Ahmed El Khatib, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fecap, aponta que o cenário internacional tem grande influência sobre o comportamento do câmbio.
-
Juros nos Estados Unidos: O Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, indicou que os cortes nas taxas de juros podem ocorrer de forma mais lenta do que o mercado previa. Essa sinalização reduz o apetite por investimentos em mercados emergentes, como o Brasil, e favorece a migração de capital para os Estados Unidos, o que valoriza o dólar frente a outras moedas.
-
Déficit nas contas externas: Internamente, o Brasil enfrenta um crescente déficit em suas contas externas, que atingiu 2,07% do PIB. Esse desequilíbrio aumenta a pressão sobre o real, já que o país precisa de dólares para cobrir suas obrigações externas, o que eleva a demanda pela moeda estrangeira.
-
Deterioração das expectativas econômicas: Medidas econômicas anunciadas recentemente, como os ajustes nas despesas públicas e propostas de reforma do Imposto de Renda, têm gerado incertezas no mercado. Essa desconfiança é refletida no Boletim Focus, que apresenta revisões pessimistas nos principais indicadores econômicos, como PIB, inflação e taxa de câmbio.
Impacto na inflação
A disparada do dólar tem implicações diretas e indiretas sobre a economia brasileira, sendo uma das mais preocupantes o impacto na inflação. A valorização da moeda norte-americana encarece produtos e serviços que dependem de insumos importados ou que possuem preços atrelados ao câmbio.
-
Aumento nos preços de combustíveis: O Brasil importa parte dos combustíveis que consome, e o preço do petróleo é cotado em dólar. Assim, a alta do dólar eleva os custos de gasolina, diesel e gás de cozinha, que são repassados ao consumidor final.
-
Encarecimento de alimentos: Muitos insumos agrícolas, como fertilizantes e defensivos, são importados. Com o dólar mais caro, o custo de produção aumenta, pressionando os preços dos alimentos no mercado interno.
-
Produtos eletrônicos e industrializados: Eletrodomésticos, eletrônicos e outros produtos industrializados que dependem de componentes importados também ficam mais caros, reduzindo o poder de compra da população.
-
Pressão generalizada: Além dos custos diretos, o aumento do dólar gera um efeito em cascata na economia, impactando setores como transporte e logística, o que contribui para a elevação dos preços em geral.
A combinação desses fatores resulta em uma inflação mais alta, o que afeta diretamente o poder de compra da população, especialmente das classes mais vulneráveis. Para combater esse cenário, o Banco Central pode adotar medidas como o aumento da taxa de juros (Selic), encarecendo o crédito e impactando negativamente o crescimento econômico.
Perspectivas
Com as expectativas econômicas deterioradas, a resistência do dólar em retornar para níveis abaixo de R$ 6 reflete a fragilidade do ambiente econômico brasileiro. Especialistas alertam que, sem sinais de recuperação das contas públicas e uma política econômica que inspire confiança, o câmbio elevado pode se tornar uma nova realidade, intensificando ainda mais a pressão inflacionária no país.